Como e por que alinhar o Voluntariado ao seu negócio

As iniciativas de voluntariado empresarial tendem a se alinhar cada vez mais ao negócio em consonância com a trilha já tomada pelo Investimento Social Privado. Essa escolha ganha força na medida em que as empresas repensam o seu papel social em aderência aos desafios econômicos impostos: sua sobrevivência e sucesso prescindem da reinvenção na forma de fazer as coisas.


4 maneiras de alinhar o Voluntariado ao negócio:
Para o voluntariado, as sinergias com o negócio mais comuns estão relacionadas às áreas de Gestão de Pessoas e de Sustentabilidade. A dica é que nesse momento o “tal” alinhamento seja considerado em suas múltiplas perspectivas:
- Alinhamento Estratégico: quando o programa se enquadra e é criado para dar respostas às aspirações, jeito de ser, missão, visão e valores da empresa. Como por exemplo, para os bancos a atividade de educação financeira faz grande sentido estratégico, uma vez que assim investe em uma sociedade e em clientes com melhor uso de seus produtos e maior poder de poupar. Da mesma forma empresas de tecnologias podem investir em voluntariado no âmbito da inclusão digital, propiciando assim usuários mais avançados e menos custos de atendimento e suporte aos clientes.
- Alinhamento “Temático” ou “Setorial”: quando o alinhamento se dá a temas ligados aos produtos e serviços que a empresa entrega, ampliando assim a percepção da oferta de valor. Por exemplo: uma empresa de brinquedos que desenvolve ações com crianças e valoriza o ato de brincar, ou outra da área da saúde que desenvolve ações em hospitais. A meu ver esse é o campo mais fértil de alinhamento.
- Presença: quando se considera atuar naquelas localidades em que a empresa possui presença física, comercial e estratégica. Isso acontece muito no âmbito das indústrias que possuem plantas próximas ou dentro de comunidades, mas também pode acontecer no varejo, explorando seu poder de capilaridade.
- Operacional: aliar a recursos e processos que já existam na empresa: sistemas, bens, políticas, processos de reconhecimento e capacitação, etc.


Nivelando conceitos
Nivelar os conceitos dentro das instâncias de decisão e junto às áreas parceiras também poderá ser bem útil na manutenção do programa como ativo do negócio.

Alguns entendimentos são deveres do gestor de voluntariado padronizar, afinal, o tema da ação social é assunto que cada indivíduo traz do seu contexto, das suas vivências, e em resumo “todo mundo tem muita opinião”, e, certos ou errados, o glossário do assunto na sua empresa está nas suas mãos, e os momentos de relação inter, intra e para fora da empresa são espaço de diálogo e de posicionamento das concepções adotadas.

Por exemplo:

A) Qual o conceito de “negócio”? Ele se encerra apenas na atividade fim, “core business”? Que níveis de relação com a sociedade o contexto atual exige das empresas? Qual o entendimento de negócio dos seus pares de outras áreas (finanças, marketing, comercial, RH)? Note que o conceito de negócio em geral é enviesado pela atividade fim da área e não da empresa como um todo. Vale falar a língua gerencial abordando como por exemplo, conteúdos trazidos por Porter e a criação do valor compartilhado.
B) Qual a diferença entre voluntariado pessoal e corporativo? Responder isso ajuda a acalmar as expectativas internas e externas e estabelecer o famoso “foco”. Uma delimitação de qual estratégia de voluntariado será adotada pelo todo da empresa – em detrimentos de outras causas e impulsos que podem ser tão importantes quando aqueles objetivos definidos pela sua empresa, mas que não corresponde a estratégia traçada. Da minha experiência, na medida em que se expande em demasiado o foco de atuação voluntária em favor dos infinitos talentos e desejos de atuar dos colaboradores e gestores, os resultados finais se tornam mais diluídos, menos concentrados, com tendências à dispersão.
C) Como podemos atuar de forma complementar às políticas públicas? Muito se ajuda quando programas dialogam com as iniciativas já existentes e não as sobrepõem. E como essa atuação não sobrepõe iniciativas de outras empresas?
D) Em que medida o “alinhamento com o negócio” é diferente de “estar a serviço do negócio”?

Perguntas como essas, se trabalhadas pelos gestores de voluntariado junto aos seus pares e superiores, podem favorecer que os ganhos múltiplos da iniciativa floresçam para:

- funcionários e equipes, através de ganho pessoal, clima, orgulho, engajamento, entre outros.
- para a empresa, como bom relacionamento com a sociedade e reputação, e o mais importante:
- para as comunidades e beneficiários que recebem um trabalho dedicado, de qualidade e com reais possibilidades de transformações.


Bruno Barcelos - Abril 24, 2018